Boa Tarde,
“Este livro é um reflexo do que sentimos”
Com esta primeira frase, Nuno de Freitas, resume-nos, desde início e de forma clara, o teor deste Sopro de Alma.
No entanto, por si só, ele acaba por ser demasiado abrangente e, é neste ponto, que começa a função do leitor: descobrir quais os sentimentos que este livro reflecte. Cabe a cada um de nós decifrar os caminhos que o autor percorre nesta viagem pelo âmago do ser humano em toda a sua complexidade e amplitude.
Falar de sentimentos implica a existência de, pelo menos, dois intervenientes; aquele que sente e o alvo desse sentimento.
Na quase totalidade dos textos aqui apresentados, e sendo o narrador dos mesmos aquele que sente, o algo preferencial de todos os sentimentos descritos, é a mulher.
É ela que desperta no homem todos os sentimentos. É ela que lhe foge à compreensão. É ela que dá sentido à vida. É ela que lhe alimenta o ego ou o faz ter fome de amor. Ela é o tudo e o nada.
E é entre o tudo e o nada que, Nuno de Freitas, faz a sua reflexão que também, pode ser a nossa. Dependendo de como nos identificarmos com os seus textos.
A melhor forma de explicar, em poucas palavras, o conteúdo temático do livro, é pedir-vos que imaginem uma linha que une dois pontos. Num doa extremos “visíveis” desta linha temos o amor, no outro encontramos o desamor.
No espaço que separa um do outro, estão todos os sentimentos intermédios; a paixão, o afecto, o carinho, a amizade, o desdém, a indiferença, o aborrecimento, o desprezo, só para referir alguns.
Num outro plano temos os sentimentos satélites. Aqueles que vagueiam ao longo desta linha imaginária e só fazem sentido estando agregados a outros; dou-vos como exemplos: a saudade, o desencanto e a tristeza.
Ao iniciarmos a leitura destes 50 textos iniciamos também uma viagem ao longo desta linha imaginária. Em cada um deles, o autor oferece-nos uma visita guiada entre um extremo e o outro, sendo que, muitas vezes, somos surpreendidos pela vertiginosa deslocação ou pela montanha russa por onde nos conduz.
Este é um livro cheio de sentimentos facilmente identificáveis, incluídos em textos com os quais facilmente nos identificamos, Mas desengane-se quem pensar que está tudo descrito por palavras.
Quando vos pedi para imaginarem a linha entre o Amor e o Desamor referi que cada um deles estava num extremo “visível”. E tive o cuidado de catalogar os extremos porque existe algo mais para além desses pólos.
Consciente ou inconscientemente (apenas o autor pode dizer) existem alguns sentimentos escondidos para além das suas palavras, para além dos textos. E esses são aquele dúbios. Não por serem difíceis de explicar mas simplesmente porque estando num patamar acima do amor, não deixam de ser sentimentos negativos. Dou-vos como dois exemplos: idolatria e obsessão.
Estes e outros estão, como disse, para além dos extremos visíveis e cabe a cada um dos leitores descortina-los e classifica-los na sua própria tabela de afectos. E digo isto porque cada um de nós tem percepções diferentes e ainda bem que assim é.
No papel de apresentador desta obra, e depois de ler e reler cada um dos textos fui confrontado com uma grande dúvida; qual o género literário em que se enquadra este Sopro de Alma?
Apesar dos poemas que contém (10) e de um ou outro texto em prosa poética, não é um livro de poesia.
Apesar das pequenas histórias que cada texto encerra, não é um livro de contos.
Embora escrito, quase sempre, na primeira pessoa e de forma intimista, não é uma biografia nem um livro de confissões.
Mesmo revelando-nos algumas soluções para os problemas que todos nós encontramos no dia a dia, não é um livro de auto ajuda.
Não é um romance histórico nem um livro de fantástico. Tampouco é um livro técnico.
Perante esta minha dúvida, que ainda subsiste, deixo ao editor e aos livreiros a tarefa de escolherem o local onde acham que o devem colocar.
Aos leitores, apenas deixo uma garantia, este Sopro de Alma é um livro que vale a pena ler e já tem , garantido, um lugar de destaque na minha biblioteca pessoal.
Emanuel Lomelino
(Poeta)
Lisboa, 12 de Março, 2011
"Obrigado"